Contemplação II

Continuação do post anterior - contextualização/memória descritiva.

Mestrado em Design da Imagem _ FBAUP

Dispositivos Visuais + Narrativas Visuais _ 1º Ano

Projecto 3

O vídeo escolhido tem, a meu ver, uma forte componente da memória, da recordação espacial e temporal, especialmente. O factor humano presente é reduzido quando em comparação com a paisagem/lugar.

Como tal, remete-me para um imaginário do profundo, em que o som é o interior, com algum eco, sem, no entanto, haver uma voz nítida nem palavras claras no discurso. Remete-me para o pensamento, para a voz de dentro, que oculta os sons do exterior ao próprio corpo.

Assim sendo, escolhi a faixa “Come Tenderness”, da Lisa Gerrard, por se enquadrar nessa descrição e nesse sentimento. O discurso vocal não é claro, não há palavras nítidas que distraiam o sujeito do seu pensamento, das imagens que lhe correm em frente aos olhos. Esse é, portanto, o som forte da narrativa.

Este som só é quebrado em duas ocasiões: nas cenas dos transportes e no final. Os transportes vêm quebrar o ritmo de cenas mais de local, dando-lhe uma robustez diferente. Como se, nessa parte, quase se perdesse o fio condutor dos pensamentos, representados pela “Come Tenderness”, sobrepõem-se os sons dos respectivos transportes, do real, do exterior. São cenas mais invasivas, a meu ver, com um ritmo diferente e que trazem o sujeito ao mundo exterior, por isso escolhi sons representativos. No entanto, a música nunca se perde.

Quando se volta à cena de paisagem/local, a “Come Tenderness” já ganhou, novamente, importância, pelo aumento do volume, que antes havia sido reduzido.

Ainda antes da cena final, entra um novo som, uma nova peça musical, que vai acompanhar a parte visual até ao fim. Desta vez, entra a música “Seven sirens and a silver tear”, dos Sirenia. Esta peça gótica em piano continua na linha da ausência de um discurso falado, mas aumenta a cadência do registo sonoro e da componente emocional. A penúltima cena faz o cruzamento entre as duas músicas escolhidas: a mudança de sonoridade naquele instante levanta questões sobre o que virá seguidamente. Assim, enquanto a primeira música decresce de volume até deixar de se ouvir, a segunda começa a ouvir-se cada vez mais nitidamente e melhor. Não foi feito, tecnicamente, um cross fade, mas antes um fade out da primeira música e um fade in da segunda, separadamente.

Esta música, apesar da profundidade que também confere à narrativa, traz à evidência outra emotividade. Enquanto que a primeira música aponta para um avançar, ainda que lento, de lugares, esta dá uma profundidade estática – actua num só local, como se o sujeito se prendesse a um só sítio. Por isso, apesar de começar na cena anterior, esta música só está em pleno na última cena. Mesmo tendo em conta o movimento da bicicleta e do camião, a câmara está fixa num só ponto, o que acontece menos enquanto se ouve a “Come Tenderness” – nestas alturas, há um travelling da direita para a esquerda (que sugere que está a filmar a partir de dentro de um veículo).

Ao visualizar este vídeo pela primeira vez, ocorreram-me imediatamente estas duas músicas, pela imersividade que criam e que se coadjuva com a do ambiente do vídeo.

Alda Silva _ 071246011

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