Nova Iorque quer toda a gente a beber da torneira

Li esta notícia no Público online, no P2.
Fez-me pensar se o mesmo não deveria ou poderia ser feito em mais cidades e países.
São cerca de 30 milhões de garrafas de plástico que acabam todos os dias na lixeira. Um problema ambiental que pode diminuir se os nova-iorquinos beberem mais água da torneira

Ao longo deste mês, os habitantes e turistas da cidade de Nova Iorque vão ser bombardeados com anúncios a convidá-los a trocar a compra de garrafas de água pelo consumo de água da torneira. Não para promover o uso daquele recurso em vésperas de um aumento de 11,5 por cento do preço do fornecimento público, mas alegando razões ecológicas: com quatro em cada cinco garrafas de água a terminarem o seu ciclo de vida nas lixeiras da cidade, as autoridades pretendem diminuir os desperdícios e assim reduzir a sua parcela na emissão dos gases com efeito de estufa que contribuem para o aquecimento global.
Nos metros e autocarros, nos quiosques, multibancos, na rádio e televisão, os nova-iorquinos e seus visitantes são incentivados a matar a sede e "encher o copo" directamente da torneira. "Get your fill" é o nome da campanha de promoção da água canalizada, orçada em 700 mil dólares. " (...)
"Ao beber um copo de água da torneira, os nova-iorquinos estão a reduzir o desperdício de plástico, a combater a obesidade e a poupar dinheiro", sublinhou o mayor Michael Bloomberg na apresentação da campanha. Nesta altura do ano, com o calor a dificultar a circulação, moradores e turistas trocam notas de um dólar por garrafas de água fresca em cada esquina. Esse plástico acaba invariavelmente no caixote do lixo - são cerca de 30 milhões de garrafas por dia, provocando uma pressão acrescida sobre as lixeiras da cidade, já de dimensão épica.
Beber água da torneira, transportar a sua própria água em garrafas reutilizáveis e reciclar os desperdícios são algumas das dicas que a cidade quer transmitir aos seus residentes para resolver um problema ambiental que se tem agudizado nos últimos tempos. De acordo com os registos oficiais, os nova-iorquinos têm vindo a consumir cada vez menos água canalizada: de 760 litros por dia em 1990, o gasto per capita caiu para 400 litros por dia em 2006.

A culpa do imigrante
A imigração explicará, em parte, a redução do consumo. Como notava o responsável pela saúde pública de Nova Iorque, muitas comunidades imigrantes são provenientes de países onde o consumo de água da torneira é interdito. "Estas pessoas que nunca puderam beber água da torneira não estão devidamente sensibilizadas para a qualidade da água canalizada da nossa cidade", explica. Nova Iorque é uma das cinco cidades americanas que goza de uma excepção federal à obrigatoriedade de filtrar a água para consumo público, por causa da frescura e qualidade das suas fontes de abastecimento.
Segundo o departamento ambiental de Nova Iorque (e também para várias organizações independentes), não há nenhuma garantia que a água engarrafada seja mais segura do que a água da torneira. A supervisão dos sistemas de abastecimento de água está a cargo da Agência de Protecção Ambiental (EPA, na sigla em inglês), que tem critérios de qualidade muito rigorosos e controlos periódicos. A regulação da água comercializada em garrafas, contudo, cai na esfera da Food and Drug Administration, que sem meios próprios deixa a inspecção a cargo da indústria. As suas regras também são menos rígidas, permitindo, por exemplo, que a água seja recolhida na proximidade de unidades industriais ou aterros sanitários.
O Sierra Club, uma das maiores organizações de defesa do ambiente dos Estados Unidos, não podia estar mais satisfeito com a iniciativa da cidade de Nova Iorque. Há anos que o clube tem vindo a desenvolver a sua própria campanha a favor do consumo de água da torneira. "Todos os anos, são usados mais de quatro mil milhões de litros de petróleo para fabricar garrafas de água de plástico. Só nos Estados Unidos, gastam-se 1,5 milhões de barris. O mercado global de água engarrafada produz, anualmente, cerca de 1,5 milhões de toneladas de plástico, um processo que liberta para o ambiente vários materiais tóxicos como o níquel ou o benzeno", diz Ruth Caplan, especialista em água naquela associação.

Mais saudável
Segundo as contas do Sierra Club, os argumentos evocados por Michael Bloomberg vão directos ao assunto. Numa análise comparada, a associação nota que o consumidor paga cerca de 0,0015 dólares por cada galão (3,78 litros) de água da torneira. Se filtrar a sua água canalizada, gasta 0,13 dólares pelo mesmo galão. Mas se comprar água engarrafada, o custo do galão dispara para 1,27 dólares.
"Os gigantes multinacionais como a Nestlé, a Coca-Cola ou a Pepsi fazem fortunas com a água. Nos Estados Unidos, um golo de água engarrafada custa em média mil vezes mais do que um golo de água da torneira", refere. Além de que, em muitos casos, o líquido que os consumidores bebem sob marcas como a Dasani ou Aquafina é a mesma água da torneira dos estados de Nova Iorque ou da Florida, com um tratamento adicional para alterar o sabor.
Além da questão ambiental, as autoridades em Nova Iorque têm insistido na mensagem de que a opção pela água da torneira é a mais saudável. "Se conseguirmos levar as pessoas a beber uns quantos mais copos de água e uns quantos copos menos de refrigerantes e outras bebidas açucaradas, poderemos obter resultados significativos no tratamento da maior ameaça à saúde pública nos dias de hoje: a obesidade", frisou Bloomberg.
Só a organização que representa os engarrafadores de água, a Bottled Water Association, claro que não está muito satisfeita com a campanha em curso em Nova Iorque - ou noutras cidades americanas, como por exemplo Salt Lake City, onde em qualquer evento público só está disponível água da torneira, ou São Francisco, cujo mayor decretou o fim da venda de garrafas de água em todos os edifícios municipais.
"É profundamente injusto que esta indústria seja escolhida para alimentar um debate repleto de preconceitos e desinformação. A indústria da água engarrafada está profundamente regulada em termos de qualidade e o sector tem investido milhões de dólares para continuamente melhorar a sua qualidade e sabor. As garrafas de plástico são as embalagens mais recicladas no país, e as empresas de água lideram na diminuição do plástico utilizado e na eficiência energética dos seus processos produtivos", respondeu a associação.

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